CRÍTICA | BABYGIRL
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 28 de jan.
- 3 min de leitura

Os anos 80 e 90 foram marcados por um subgênero que acabou se perdendo no tempo, o suspense/thriller erótico, que tinha produções famosas como Atração Fatal, Instinto Selvagem, Invasão de Privacidade, De Olhos Bem Fechados, entre vários outros; essas produções foram importantes por terem quebrado tabus sobre sexo na época. Ao longo da década de 2000, e 2010, esses filmes foram diminuindo, se limitando a produções mais independentes, apesar de alguns lançamentos mais comerciais como Cinquenta Tons de Cinza. Agora, temos “Babygirl”, estrelado por Nicole Kidman e Harris Dickinson, um thriller erótico que prometia ser provocativo e polêmico, mas acabou sendo mais contido, menos ousado do que se esperava. Na trama, a CEO de uma empresa de tecnologia, Romy (Kidman), acaba se envolvendo com o estagiário, Samuel (Dickinson). Ela é casada com Jacob (Antonio Banderas), mas é sexualmente frustrada com o seu casamento, e vê a oportunidade explorar suas fantasias com Samuel, que é mais novo. Porém, a situação vai ficando cada vez mais intensa, e Romy começa a ficar preocupado com a sua família e o seu cargo na empresa.
“Babygirl” é um thriller/erótico dirigido por uma mulher, e isso torna o filme mais especial porque vemos a história com um outro olhar, mais feminino, já que os filmes desse subgênero sempre foram dirigidos por homens. Halina Reijn, diretora de “Morte, Morte, Morte!”, traz assuntos interessantes – onde a maioria ainda é um tabu para a sociedade – envolvendo fantasias sexuais que estão presas dentro da gente, nas quais não nos permitimos fazer por medo do julgamento da sociedade. Diálogos provocativos, fetiches envolvendo dominação e submissão, cenas de sexo com nudez explicita, sensualidade e provocação, todos os elementos desse gênero estão lá, porém, de forma mais contida, menos ousado, e isso é o ponto negativo do filme. Além disso, os conflitos acabam não sendo tão desenvolvidos, afinal, a personagem de Nicole Kidman está tendo um caso com seu colega de trabalho, e isso poderá afetar o seu cargo na empresa e o seu casamento; nesse caso, falta mais ameaças, mais momentos intensos, aquela sensação de sair fora do controle da situação, e isso seria um grande diferencial para a trama. Mesmo assim, “Babygirl” é um filme bom, a tensão entre Romy e Samuel vai crescendo ao longo da trama, os desejos vão se aflorando, e tem seus momentos e conflitos. Faltou só um tempero mesmo.

A atuação de Nicole Kidman é o ponto forte de “Babygirl”, indicada ao Globo de Ouro, que fica dividida entre se entregar ao prazer, ou manter as aparências com o seu marido e proteger sua família. A atriz consegue demonstrar muito bem esses conflitos da personagem, se entregando totalmente no papel de uma mulher submissa, frágil, e que quer (e precisa) se soltar para realizar seus fetiches e ser feliz. Harris Dickinson está incrivelmente sedutor e dominador no papel do estagiário Samuel, e sua química com Kidman é palpável em tela, e tudo acontece naturalmente. A sequência em que ele dança a música “Father Figure”, do George Michael, pode parecer uma cena qualquer, mas o impacto – principalmente por causa da sensualidade do personagem, e as cenas seguintes -, é o suficiente para se tornar uma das mais icônicas do cinema nos últimos anos. Antonio Banderas interpreta o marido da personagem de Kidman, que começa de forma discreta, um personagem “bobão”, mas aos poucos vai crescendo na trama, e em uma cena definitiva para o seu personagem, ele muda totalmente de personalidade, ainda que não seja uma cena tão marcante, mas a atuação se intensifica ainda mais com o conflito que surge.
“Babygirl” não é apenas um filme sobre sexo, tanto é que nem tem tantas cenas mais explicitas, mas sim sobre se libertar das amarras e se entregar aos seus desejos e fantasias mais intimas, se desconstruir do tabu que a sociedade criou sobre a sexualidade humana, e se entregar ao prazer sem julgamentos. É um filme bom, a incrível atuação de Nicole Kidman é o que salva o filme, tem seus altos e baixos, principalmente por não ser tão ousado como pretendia ser, só que tudo é mais contido, os conflitos poderiam ser mais desenvolvidos na trama, ter mais consequências para a personagem de Kidman, e a resolução pode frustrar muita gente. “Babygirl” parecia querer pegar fogo, tinha um grande potencial, mas acaba sendo um filme morno com mensagens importantes sobre liberdade sexual, realizar seus desejos e ser feliz, e o principal de tudo: a comunicação entre o casal.

BABYGIRL
Ano: 2024
Direção: Halina Reijn
Distribuidora: Diamond Films/ A24
Duração: 114 min
Elenco: Nicole Kidman, Harris Dickinson, Antonio Banderas, Esther Rose McGregor, e Sophie Wilde
NOTA: 7,5





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