CRÍTICA | ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES

Atualizado: 27 de fev.

10 Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor (Martin Scorsese), Melhor Atriz (Lily Gladstone), Melhor Ator Coadjuvante (Robert De Niro), Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Canção Original, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, e Melhor Edição.

Existem parcerias no cinema que são primorosas e marcantes, mas acredito que nenhuma chega ao patamar do trio Martin Scorsese, Robert De Niro e Leonardo DiCaprio. A pareceria entre eles é de longa data e na maioria das vezes os três não estão juntos no mesmo filme, mas renderam grandes obras do cinema, como Os Infiltrados, O Irlandês, e agora, Assassinos da Lua das Flores. A produção é baseada no livro “Killers Of The Flower Moon: The Osage Murders And The Birth Of The FBI”, do jornalista norte-americano David Granns, sobre os assassinatos dos índios Osage na década de 20 e a origem do FBI.

Envolvendo ganância e poder, a trama acompanha Ernest (Leonardo DiCaprio), que retorna para o condado de Osage para morar e trabalhar para o seu tio, William Hale (Robert De Niro). Ernest acaba conhecendo a índia Mollie (Lily Gladstone), se casam e constroem uma família. Ao mesmo tempo, integrantes da tribo Osage começam a ser assassinados, incluindo parentes próximos de Mollie, colocando Ernest em uma situação delicada entre sua esposa e seu tio. Jesse Plemons, Brendan Fraser e John Lithgow também estão no elenco.

Martin Scorsese pretendia focar a trama de Assassinos da Lua das Flores no investigador do FBI Tom White, mas sabiamente decidiu mudar, mostrando a relação cruel e tensa entre os índios da tribo Osage, que ficaram ricos ao descobrir petróleo na região, e os homens brancos, que querem usufruir dessa riqueza a qualquer custo. Para quem não gosta de filmes longos, uma notícia ruim: o filme de Scorsese tem 3h30 minutos de duração, e não ajuda nada a trama ter um desenvolvimento mais lento. Porém, a história e a atuação de todo o elenco sustentam a longa duração, são poucos os momentos monótonos, e envolvem o espectador desde o início. Killers of the Flower Moon, no original, é um filme sobre assassinatos, crimes, e investigação, mas o diretor não faz nenhum mistério sobre isso, e desde o início sabemos quem é o mandante dos crimes e os que cometem os assassinatos, e isso não é ruim, pelo contrário: toda essa situação deixa o espectador desconfortável e na ânsia para que os criminosos sejam punidos, vendo a crueldade que os vilões fazem com os índios Osage.

Muito se falou, principalmente em relação ao trailer, sobre a atuação de Leonardo DiCaprio interpretando Ernest Buckhart. O astro dosa bem os “dois lados” do seu personagem, dividido entre o poder e o amor pela sua família, além do racismo e o machismo escancarados, demonstrando brilhantemente a sua reação perante as escolhas que fez, as erradas principalmente. Mas o grande destaque é Lily Gladstone, que interpreta Mollie Buckhart. A personagem não é a protagonista do longa, mas todos os acontecimentos giram em torno dela, e com o carisma da atriz e a sua impecável interpretação, acaba trazendo toda a atenção para ela. Lily traz pureza, desespero, e alegria para a personagem, muitas vezes acaba sendo ingênua, mas sempre atenta em relação a tudo que está acontecendo.

É incrível como Robert De Niro sempre se destaca nos seus personagens, e em Assassinos da Lua das Flores não é diferente: o ator está espetacular no papel do mau caráter William Hale, demonstrando a dubiedade entre aparentar ser amigo de todos e a personalidade gananciosa capaz de fazer qualquer coisa para se dar bem. De destaque no elenco ainda tem Jesse Plemons, o investigador do FBI, Tom White, e uma breve participação de Brendan Fraser, que interpreta o advogado corrupto de Hale W.S. Hamilton, ambos aparecendo na última hora do filme.

Os crimes reais abordados em Assassinos da Lua das Flores se passam exatamente a um século atrás, mas ainda é um tema atual, mostrando o racismo, a ganância, o desprezo contra a cultura indígena, a impunidade dos homens brancos, e que eles têm o poder de controlar tudo e todos. Sem nenhum grande alarde em torno de seu lançamento, o novo filme de Martin Scorsese é um dos grandes destaques do ano, e com certeza terá seu reconhecimento na maior premiação do cinema. Apesar das suas 3h30 minutos de duração, que pode assustar muita gente, Scorsese e o roteirista Eric Roth conseguem criar uma trama tensa, envolvente, de certa forma violenta, com personagens profundos e muito bem desenvolvidos, e um destaque maior para Lily Gladstone, que vai chamar a atenção no Oscar. Desde o início, Assassinos da Lua das Flores mostra quem são os vilões e tudo o que eles fazem, e isso é um dos maiores acertos do longa.