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CRÍTICA | ANORA

  • Foto do escritor: Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
    Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
  • 24 de jan.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 5 de mar.



Vencedor de 05 Oscar | Melhor FILME, Diretor (Sean Baker), Atriz (Mikey Madison), Roteiro Original, e Edição


06 Indicações ao Oscar | incluindo Melhor Ator Coadjuvante (Yura Barisov)



A vida nem sempre é um conto de fadas, e nem sempre tem um final feliz como nos filmes de romance. A realidade pode ser cruel, principalmente para os mais ingênuos e os menos favorecidos. Vencedor do Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2024, Anora mostra exatamente essa realidade, em um filme que muito foi comparado com Uma Linda Mulher – clássico da comédia romântica estrelado por Richard Gere e Julia Roberts -, mas sem um final feliz, e isso fica claro desde os primeiros quinze minutos de fita. Abordando temas como machismo, opressão, e diferenças de classes sociais, a trama de Anora acompanha a vida da personagem título (mas que prefere ser chamada de Ani), interpretada por Mikey Madison, uma dançarina erótica e garota de programa de um clube noturno em Nova York. Em uma noite, ela conhece Ivan (Mark Eidelstein), um jovem russo de 22 anos e herdeiro de uma família que acaba ficando encantado por Ani, fazendo uma proposta: ser sua namorada por uma semana. Porém, os dois acabam se envolvendo demais, e decidem se casar, impulsivamente. Ani pensou que se deu bem, que teve uma chance de mudar de vida, mas tudo vira do avesso quando os pais de Ivan descobrem sobre o casamento, forçando-os a anular o matrimonio. Yura Borisov, Karren Karagulian, e Vache Tovmasyan também estão no elenco.


Com um ritmo frenético o tempo, Anora parece uma típica comédia romântica, mas o filme de Sean S. Baker foge dos clichês do gênero, entregando uma trama imprevisível e com situações absurdas envolvendo, principalmente, opressão e diferenças de classes sociais, onde o mais pobre sempre sai perdendo. E apesar das situações tensas, o tom de comédia sempre está presente, principalmente nos diálogos ácidos. O roteiro de Anora, que também escrito por Baker, pode facilmente ser dividido em duas partes bem distintas: a primeira, é quando Ani e Ivan se conhecem, tudo no maior clima de um romance turbinado com irresponsabilidades, bebidas, drogas, aventuras, e muito sexo, embalados com uma trilha sonora viva e empolgante que só aumenta a conexão do público com a trama. A segunda parte, quando a família de Ivan descobre sobre o casamento e decidem anular, é uma montanha russa de emoções, com muita confusão, situações pesadas, absurdas e inesperadas que podem incomodar o espectador mais sensível, um caos total, mudando totalmente a vida dos jovens apaixonados. Mas até que ponto esse amor pode durar?



O elenco todo está incrível em suas atuações, tanto os protagonistas, Ani e Ivan, quanto os coadjuvantes, especificamente os capangas da família do jovem. A química entre Mikey Madison e Mark Eidelstein é explosiva e repleta de emoção, mesmo sendo personagens completamente diferentes, cativando o público e nos fazendo torcer para a felicidade deles. Anora/Ani é uma jovem inocente, impulsiva, real, que se vê encantada pela vida afortunada que Ivan leva, e ela parece realmente gostar do jovem, mesmo que os seus encontros, inicialmente, eram apenas por envolvimento financeiro. É uma personagem fácil de se conectar e torcer para que tudo de certo para ela, podendo parecer ingênua, mas que acaba se mostrando determinada em enfrentar os problemas. Mark Eidelstein, ator de origem russa, também está ótimo no papel do jovem irresponsável Ivan. Com um carisma sensacional – pelo menos até a metade do filme, depois ele acaba sendo um baita de um filho da *** -, Ivan é mimado, inconsequente, mas com uma ânsia de viver intensamente, mas sem pensar nas consequências de seus atos. Mikey Madison foi indicada ao Globo de Ouro pela sua inspirada e tocante atuação, mas Mark Eidelstein foi esnobado, infelizmente, e ele merecia sim um reconhecimento pela sua incrível performance.


Os capangas da família de Ivan, interpretados por Yura Borisov, Karren Karagulian, e Vache Tovmasyan, estão hilários – e as vezes nem parecem ser criminosos -, com interpretações caricatas, fazendo as maiores confusões, mas que conseguem deixar o espectador com raiva de tudo o que eles fazem com Ani. E esse sentimento de revolta aumenta ainda mais com a chegada dos pais de Ivan, no desfecho. Entre eles, o maior destaque é Yura Borisov, que interpreta Igor. O personagem é o mais sentimental dos três capangas, além de ser extremamente cuidadoso com Ani, criando um personagem que ganha fácil a empatia do público, mesmo depois de tudo o que ele fez. Borisov também foi indicado ao Globo de Ouro de Ator Coadjuvante pela sua atuação.



Anora traz algumas críticas sociais muito relevantes, principalmente sobre classes, mas também sobre o preconceito que a sociedade tem com as garotas de programas e strippers de clubes. Ivan e Ani tiveram atitudes irresponsáveis, típicas de pessoas mais jovens, a maioria feita por impulso mesmo – eles poderiam se conhecer melhor antes de se casarem -, mas as consequências sempre são piores para os menos favorecidos, e aqui no caso, é Ani, por causa da sua profissão e por ser pobre, que é enfatizado com a chegada dos pais do jovem.


A única ressalva que destaco aqui são algumas cenas que são estendidas demais, podendo cansar o espectador nesses momentos, ainda mais pela mudança brusca de ritmo e pela duração de mais de duas horas, mas provavelmente você ficará tão entretido nos acontecimentos que é capaz de nem perceber. Com uma trama envolvente, surpreendente, e um ritmo frenético, Anora é um conto de fadas sem um final feliz, exatamente como a vida real é, um mundo sem esperanças e que no fim das contas você só poderá contar consigo mesmo. Sean Baker cria uma história repleta de momentos absurdos, uma mistura de emoções que são potencializadas pelas estonteantes performances de Mikey Madison (Ani), Mark Eidelstein (Ivan), e Yura Borisov (Igor), com diálogos ácidos e afrontosos, muita discussão, brigas, e claro, um romance empolgante que nos dá vigor e vontade de viver algo assim; sem a parte ruim, claro. Infelizmente, Anora saiu sem nenhum prêmio do Globo de Ouro.




ANORA


Ano: 2024

Direção: Sean S. Baker

Distribuidora: Universal Pictures

Duração: 139 min

Elenco: Mikey Madison, Mark Eidelstein Borisov, Karren Karagulian, e Vache Tovmasyan



NOTA: 9,5



















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