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Foto do escritorPaulo Ricardo Cabreira Sobrinho

CRÍTICA | A SUBSTÂNCIA



“Você já sonhou com uma versão melhor de você mesmo? Mais nova, mais bela, mais perfeita?” É a partir dessa promessa que Elizabeth Sparkle (Demi Moore) decide fazer um experimento com “A Substância”. Não é de hoje que os padrões de beleza exigem mulheres magras, altas, com corpos enxutos e o principal, mais novas. Mas até onde você iria para conseguir ficar mais bonita e aceita pela sociedade? A diretora Coralie Fargeat, do excelente A Vingança (2017), faz uma crítica social sobre padrões de beleza, autoestima, e o etarismo, com bastante sarcasmo e body horror no seu novo filme, A Substância, que além de Moore, tem no elenco Margaret Qualley e Dennis Quaid.


Na trama, conhecemos Elizabeth Sparkle (Demi Moore), que tem um programa de TV envolvendo exercícios físicos e muita dança, porém, ela é demitida por causa de sua idade. Inconformada com a demissão, e preocupada por estar envelhecendo, Elizabeth descobre uma substância misteriosa que promete deixá-la mais nova e bonita, mas tudo acaba saindo fora de controle com o surgimento de Sue (Margaret Qualley), a “versão melhor” de Elizabeth.


A Substância é um dos melhores filmes do ano, uma produção visceral que promete chocar o espectador com sua crítica social ácida e satírica sobre padrões de beleza, envelhecimento, etarismo, machismo, e por usar elementos do subgênero “body horror”. Esse subgênero se caracteriza pela mutilação corporal, transformações genéticas e grotescas no corpo humano, tudo com cenas explicitas, bastante sangue, e coisas nojentas, provavelmente esse o motivo da classificação para maiores de 18 anos que recebeu. E toda essa violência não é gratuita, tudo tem um motivo, uma crítica por trás. Além disso, o erotismo, os closes nos corpos das protagonistas, e do próprio elenco coadjuvante, também são mensagens para se refletir. A diretora Coralie Fargeat consegue deixar o espectador fisgado na trama o tempo todo, com um mistério que vai crescendo e com poucos momentos em que a tensão diminui, causando um grande desconforto no público. A Substância não aborda nada de novo no cinema - é um filme feminista -, mas a forma que a diretora transporta para a tela é inusitada e diferente, e Fargeat consegue fazer você entrar na história e no drama da personagem de Demi Moore de uma forma impactante.



As duas principais críticas que A Substância aborda são o envelhecimento e os padrões de beleza impostos pela sociedade – a mídia quer mulheres jovens, bonitas, e com o corpo perfeito -. O roteiro mostra até onde Elizabeth seria capaz de ir na busca por ser aceita – intimamente, ela não quer envelhecer (mas a maioria não quer, não é?) -, e as consequências de seus atos. E o resultado final pode ser desastroso e irreparável. O machismo e a misoginia também entram em cena, principalmente no personagem de Denis Quaid, o produtor e chefe de Elizabeth, que define o tipo de mulher ideal para o seu programa. Além disso, Coralie Fargeat também critica o comportamento fetichista dos homens sobre o corpo da mulher, sempre escolhendo o corpo ideal. Porém, um personagem específico olha Elizabeth com outros olhos, só que ao perceber isso, já é tarde demais. Vale destacar o incrível trabalho de maquiagem e efeitos práticos, que mostra o horror corporal de forma grotesca e ousada, levando o subgênero para um nível absurdamente insano e perfeito. Também se destaca a ótima trilha sonora, com sons sintéticos e futuristas que se casam perfeitamente com a proposta de ficção-científica do filme, além do design de produção, com cenários vibrantes e cores saturadas – como o banheiro todo branco de Elizabeth, e o corredor da empresa, que lembra muito um cenário específico de O Iluminado.


É indiscutível que esse é um dos melhores e maiores papéis da carreira de Demi Moore, que vem recebendo elogios pelos festivais e críticos ao redor do mundo. A atriz transmite para o espectador toda a fragilidade de Elizabeth, rejeitada por já estar mais velha, com um corpo que não é desejável, e que se acha feia ao se olhar no espelho. Moore abraça totalmente a personagem, e não se preocupa nem um pouco ao protagonizar cenas de nudez explicitas. Ao perceber que não é mais necessária na mídia por conta da sua idade, Elizabeth recorre a uma experiência com a tal “substância”, e é aí que surge Sue (Margaret Qualley), a sua “versão mais nova”, com um carisma sensacional, mas que aos poucos vai revelando ser uma mulher ambiciosa, ignorando as regras do uso da substância.



Elizabeth, que uma vez foi um ícone e referência a beleza, agora é descartada por ser ultrapassada e “feia”, enquanto Sue representa o novo, a fantasia e o desejo dos homens em uma mulher mais jovem e com o corpo “enxuto” e perfeito. As duas precisam coexistir – a cada sete dias, elas revezam a vida de Elizabeth -, mas Sue acaba ficando encantada com o sucesso que está fazendo e acaba usando a “substância” de forma errada, causando consequência para ambas. Lembrando que elas são “uma só”. O elenco masculino é o grande vilão de A Substância: enquanto Harvey (Dennis Quaid) é o “todo-poderoso” da emissora que só se importa em contratar mulheres jovens, o vizinho de Elizabeth é típico homem “tarado” ao ver uma mulher gostosa e acha que ela vai aceitar as suas investidas vergonhosas. Harvey também representa o etarismo masculino ao descartar Elizabeth por estar velha – como se ele não tivesse velho e acabado -, mostrando que ele está garantido na empresa, e ela não.



A Substância é um filme de terror/ficção que usa o subgênero “body horror” para mostrar as consequências ao usar a tal substância, e mesmo com algumas cenas controversas durante o longa, nada prepara o espectador para a chocante e absurda sequência final, onde a diretora Coralie Fargeat leva o body horror para um nível hard total: é exagerado – literalmente um banho de sangue -, com muito gore e cenas nojentas, o causando um estranhamento no público e que dividirá opiniões. Por traz de toda essa violência, A Substância é um filme que tem muito o que falar, desde as críticas sociais – sobre padrões de beleza, machismo, e envelhecimento -, até as olhadas no espelho das personagens de Demi Moore e Margareth Qualey, inclusive a grandiosa cena final. As atuações das atrizes só intensificam ainda mais a produção, e junto com a inquietante trilha sonora sintética, a maquiagem e os efeitos práticos, tornam A Substância um espetáculo visual imperdível, um filme original e atual como nunca vimos antes. O impacto que causa no espectador é tão grande que você vai sair da sessão comentando sobre o que assistiu durante dias. Um dos melhores e mais interessantes filmes do ano. Prevejo indicações ao Oscar de Roteiro Original, Efeitos Visuais, Fotografia, Design de Produção e Maquiagem.




A SUBSTÂNCIA (THE SUBSTANCE)


Ano: 2024

Direção: Coralie Fargaet

Distribuidora: Working Title

Duração: 140 min

Elenco: Demi Moore, Margareth Qualley, Denis Quaid.



NOTA: 10


Disponível no





















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