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Foto do escritorPaulo Ricardo Cabreira Sobrinho

CRÍTICA | A SOCIEDADE DA NEVE



No dia 13 de outubro de 1972, um avião com um time de rugby e mais alguns passageiros – totalizando 45 -, partiu do aeroporto de Montevideo com destino ao Chile. Ao atravessar a Cordilheira dos Andes, o avião perde o controle e cai em uma clareira de neve, matando grande parte dos passageiros do voo. Os sobreviventes tiveram que enfrentar o frio, a fome, o desespero, a desesperança, os ferimentos, durante mais de 70 dias. Essa é a trama de A Sociedade da Neve, produção uruguaia indicada a 02 Oscar – Melhor Maquiagem e Penteados, e Melhor Filme Internacional -, dirigido por J. A. Bayona (de Jurassic World Reino Ameaçado). A produção é baseada na história real do acidente do voo 571 da força aérea Uruguaia e que está disponível na Netflix. Esse acidente já foi retratado no filme Vivos, lançado em 1993, dirigido por Frank Marshal e que tinha Ethan Hawke no elenco, mas nessa nova versão o diretor escala atores de origem latina.


A Sociedade da Neve vai direto ao ponto, sem exageros ou sensacionalismo, é praticamente um filme intimista sobre trágico acidente que tirou a vida de um grupo de amigos. O diretor J. A. Bayona faz um filme impactante e realista, mostrando com veracidade os problemas que os sobreviventes passaram, sem cair nos típicos “dramalhões” americanos; emociona pela sua simplicidade. O roteiro é contado a partir do ponto de vista de Numa (Enzo Vogrincic) – aliás, o ator é muito parecido com Adam Driver) -, um dos sobreviventes do acidente, que vai narrando os acontecimentos ao longo do filme. O filme da Netflix é cruel ao ponto de as cenas serem fortes, desde o acidente aéreo – bem realista -, até as condições extremas que passaram, e o polêmico ato de canibalismo que precisaram fazer para sobreviver durante os 72 dias que ficaram presos na Cordilheira dos Andes. O roteiro explora bastante esse ato, principalmente nas consequências psicológicas – já que a maioria eram religiosos -, e as cenas de canibalismo não são explicitas, apenas deixam a entender toda a situação.



A excelente construção dos personagens é o que deixa A Sociedade da Neve ainda mais marcante. O grupo dos jogadores de Rugby não são apenas um time, mas acima de tudo amigos – alguns de décadas -, e esse detalhe mexe ainda mais com os sentimentos do público. Apesar de curto, a introdução dos personagens é o suficiente para que a gente tenha empatia por eles e torça para que consigam sobreviver, e algumas mortes podem surpreender. E apesar das atrocidades que o grupo passa – incluindo o fatídico momento da avalanche -, o filme traz momentos de calmaria para os sobreviventes, onde os laços acabam aumentando, ainda mais pela situação que estão, já que precisam ajudar um ao outro para sobreviver. De todos os 45 personagens, o que mais se destaca é Numa Turcatti, interpretado por Enzo Vogrincic, que também narra a trama. O “Adam Driver latino” entrega uma simples, mas poderosa atuação e é o que mais demonstra perder as esperanças e de desistir de encontrar uma forma para sobreviver, e que é acentuado pela forma peculiar que narra os acontecimentos.


Um fato curioso é que as filmagens de A Sociedade da Neve foram feitas nos locais do acidente mesmo, deixando a produção ainda mais realista – destaque para a incrível fotografia das Cordilheiras dos Andes, que imerge o espectador na situação que os personagens passam -. Diferente das outras produções sobre o acidente – principalmente o Vivos, de 1993 -, J. A. Bayona faz um filme mais "nu e cru", um drama de sobrevivência peculiar e mais realista sem parecer uma exagerada produção de Hollywood. É uma história de amizade, de luta e sobrevivência em um dos lugares mais inóspitos da Terra, conseguindo passar para o espectador todos os obstáculos que os poucos sobreviventes tiveram durante os 72 dias à deriva na neve.


“No hay amor más grande que el que da la vida por sus amigos.”



A SOCIEDADE DA NEVE (La Sociedad de La Nieve)


Ano: 2023

Direção: J. A. Bayona

Distribuidora: Netflix

Duração: 144 min

Elenco: Enzo Vogrincic, Matias Recalt, Agustin Pardella, Esteban Kukuriczka.


NOTA: 9,0


Disponível na











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