CRÍTICA | A QUEDA

Alguém fica preso em algum lugar na natureza, passando por situações de fome, sede, causas naturais (calor, frio, tempestades), e claro, um drama básico para cativar o público. Esses são os principais requisitos para se fazer um filme de sobrevivência: em Medo Profundo, duas amigas ficam presas em uma gaiola no fundo do mar, com tubarões famintos querendo devorá-las; já em Águas Rasas, Blake Lively está surfando em uma praia paradisíaca, e acaba ficando presa em um rochedo a quilômetros da areia, à mercê de um tubarão; e Pânico Na Neve acompanha o sufoco de três amigos que vão esquiar e passam mais de 24h presos em um teleférico, enfrentando baixa temperatura e lobos famintos. Todos esses filmes têm em comum os momentos de tensão e situações angustiantes, e agora, chega mais um exemplar do gênero, A Queda (The Fall, 2022). Dirigido por Scott Mann, The Fall é uma daquelas produções que vai te deixar aflito com os momentos repletos de tensão, pincipalmente para quem tem medo de altura, e tem no elenco Grace Caroline, Virginia Gardner, e uma participação de Jeffrey Dean Morgan, o Negan de The Walking Dead. Na trama, duas amigas decidem escalar uma torre de mais de 600 metros de altura, e acabam ficando presas no alto da torre. Sem água, comida, e expostas ao clima quente, elas precisam encontrar uma forma de sair com vida.

A Queda é um típico filme de sobrevivência, com todos os clichês do gênero, mas que se destaca entre as produções, resultando em uma das melhores surpresas do ano. Scott Mann traz um filme com cenas angustiantes que nos deixam fixados na trama, desde a subida na torre, quando elas chegam lá no topo, e toda a sequência até o final. É uma 1h40min de pura adrenalina e tensão, principalmente para quem sofre de acrofobia (medo de altura). O jogo de câmera que o diretor faz é incrível, capaz de causar aflição no público, criando cenas e situações tensas, e todos os mínimos detalhes ajudam na sensação de desespero: os ruídos da torre enferrujada, pregos caindo, o barulho do vento, os corvos, e até os perigos naturais – baixa temperatura, calor, tempestades -. A fotografia é outro destaque de A Queda, e os belos cenários lá no alto da torre com uma visão panorâmica, mostrando toda a região deserta, é um deleite para o espectador, além de ajudar nos momentos mais angustiantes. Mas nem tudo funciona, e os clichês são os maiores vilões do filme: o drama das protagonistas, as situações típicas de produções do gênero, desfecho previsível, nada de diferente do que já foi visto em outros filmes, mas acabamos relevando. Porém, acontece uma inesperada reviravolta, e o filme nem pedia por uma, o que acaba se tornando uma interessante surpresa.

Grace Caroline Currey e Virginia Gardner estão ótimas no papel das duas amigas, Becky e Hunter, respectivamente, conseguindo passar todo o desespero de suas personagens presas a mais de 600 metros, e o público consegue sentir toda a aflição que elas passam. As amigas ocupam quase o tempo todo em tela, se mostram fortes, mas vulneráveis à situação que estão enfrentando, e protagonizam momentos intensos que mexem com a gente. Porém, como já dito, o conflito entre elas é clichê e chato – será que não tem conflitos mais interessantes do que os de relacionamento? -, mas pelo menos, a carga dramática como um todo é bem interessante, e funciona com o desfecho. Claro que não é só sobre isso, tem ainda uma outra situação que as duas passaram juntas, que afetou mais Becky. Jeffrey Dean Morgan, o Negan da série The Walking Dead, e o pai de Sam e Dean Wichester em Supernatural, também marca presença, muito pouco na verdade, mas está nos momentos emocionantes do filme.

E uma curiosidade: a torre que inspirou a produção realmente existe, a KXTV/KOVR Tower, que fica na Califórnia. Obviamente, elas não estavam a mais de 600 metros de altura, e sim cerca de 30 metros, onde usavam tela verde para mostrar o cenário do deserto. No fim, A Queda acabou sendo uma das grandes surpresas do ano, um filme que não prometia muito, e cumpriu mais do que o previsto, trazendo cenas tensas e angustiantes com muito suspense. Entre seguir adiante, superar medos, resolver conflitos do passado, e muitas postagens nas redes sociais, a produção mostra a intensa luta pela sobrevivência de duas amigas que querem apenas se aventurar, mas escolheram o lugar mais inusitado para isso.