Histórias de mistério sempre atraiu um público fiel, seja em livros ou filmes, popularizado como “whodunnit” (quem é o culpado). Nas obras literárias, Agatha Cristie é o maior nome desse gênero, criando clássicos como Assassinato no Expresso Oriente e Morte no Nilo – ambos viraram filmes -, Morte na Biblioteca, entre vários outros. Sem muito alarde, estreou nos cinemas a terceira adaptação cinematográfica das obras da autora, A Noite das Bruxas, filme que mantém todas as características dos mistérios desvendados por Hercule Poitroit, mas com elementos sobrenaturais. Kenneth Branagh retorna para a direção e ao papel do detetive Poitroit, onde a trama é ambientada após a Segunda Guerra Mundial. A escritora de mistérios Ariadne Oliver (Tina Fey) convida o detetive para desmascarar uma vidente que pretende realizar uma sessão mediúnica com uma família. Durante a sessão espírita, alguém é assassinado, e cabe a Hercule Poitroit descobrir se o assassino é um espírito ou uma pessoa de verdade.
Depois de investigar um assassinato em um famoso trem na Europa, e em um cruzeiro luxuoso no Egito, agora o detetive Hercule Poitroit parte para a bela Veneza, especificamente em uma casa vitoriana onde foi convidado a assistir uma sessão mediúnica, para descobrir quem foi o responsável pelo assassinato de uma garotinha, um ano atrás. A Noite das Bruxas é o livro menos popular de Agatha Cristie, e traz todos os elementos básicos de antes - o clima investigativo, os suspeitos, possíveis culpados -, mas agora com elementos sobrenaturais: assombrações, a fotografia mais escura, cenários góticos e alguns sustos. O diretor Kenneth Branagh (que também estrela a produção) consegue dosar bem o terror com a investigação, trazendo mais mistério e suspense do que as produções anteriores, criando uma atmosfera mais sombria e assustadora. Todos esses elementos trazem um novo vigor para a franquia, já que a sua abordagem é bem diferente.
Michael Green assinou o roteiro de A Noite das Bruxas – aliás, ele fez alterações significativas em relação a obra literária -, e aqui tem um outro diferencial que dá um plus na trama: o fato de Hercule Poitroit ser cético. Pode parecer obvio convidar um homem que não acredita em Deus para uma “sessão religiosa” afim de descobrir se é uma farsa ou não, mas aqui esse detalhe caiu muito bem para a trama, deixando o personagem em dúvida das suas crenças e o fazendo entrar em um conflito interno. Além disso, o filme foca bastante em Poitroit e no seu passado, tornando o personagem mais interessante e com um bom desenvolvimento dentro da trama. Kenneth Branagh retorna para o papel do detetive, trazendo todos os trejeitos típicos que conquistaram o público, e de destaque no elenco ainda tem a vencedora do Oscar Michelle Yeoh, que interpreta a médium Joyce, Tina Fey da vida a escritora Ariadne, Jamie Dornan (da trilogia Cinquenta Tons de Cinza), e Kelly Reily, que interpreta Rowena, a mãe da garotinha que tentaram entrar em contato através da sessão mediúnica.
Uma casa assombrada, uma intensa tempestade, um assassinato seguido de outros, vários suspeitos – incluindo a possibilidade de o assassino ser um espírito -, e para resolver esse mistério sobrenatural cabe a Hercule Poitroit ir contra as suas crenças e descobrir novos mundos. Menos glamoroso e mais assustador, A Noite das Bruxas acaba se saindo melhor do que os filmes anteriores, é mais envolvente e se destaca pela abordagem sobrenatural, o grande diferencial da produção. Não é um filme surpreendente e nem tenta ser, é honesto na sua proposta e serve apenas para entreter o espectador em desvendar esse mistério junto com Hercule Poitroit. O assassino é um ser humano ou um espírito? E qual será a próxima obra de Agatha Cristie a ser adaptada para os cinemas?
A NOITE DAS BRUXAS (A HAUNTING IN VENICE)
Ano: 2023
Direção: Kenneth Branagh
Distribuidora: 20th Century Fox
Duração: 103 minutos
Elenco: Kenneth Branagh, Tina Fey, Kelly Reily, Jamie Dornan e Michelle Yeoh.
NOTA: 8,0
Disponível no
Comments