CRÍTICA | A GAROTA DA VEZ

O subgênero “true crime” tem se popularizado bastante nos últimos anos, mais comum em séries do que em filmes, e sempre baseado em fatos reais. Os filmes de serial killers também sempre atraiu a atenção do público, mas esses seguem mais para o lado da ficção, ainda que alguns sejam inspirados em assassinos reais. O mais recente da safra “true crime” é A Garota da Vez, filme dirigido e estrelado por Anna Kendrick sobre o assassino em série Rodney Alcala, que matava mulheres durante a década de 70, e que participou ao vivo de um programa de TV. A trama central foca na aspirante à atriz Sheryl Bradshaw (Anna Kendrick), que busca o seu primeiro grande papel, e encontra uma oportunidade de ser vista no programa de namoro “The Dating Game”. Ao mesmo tempo, a produção mostra o serial killer Rodney Alcala (Daniel Zovatto) perseguindo e matando mulheres ao longo da década. Mas a situação piora quando ele acaba indo para o programa de namoro onde Sheryl vai participar. Autumn Best, Kathryn Gallagher e Pete Holmes também estão no elenco.

A Garota da Vez não é um filme de serial killer como Seven, Zodíaco, entre outros, que mostra a investigação da polícia para capturar o assassino e desvendar os crimes – até porque, a polícia não fez nada para capturar Alcala -, e sim uma história do ponto de vista das vítimas. A estreia na direção de Anna Kendrick é bastante promissora, onde ela opta por não mostrar violência, sangue, e cenas mais explicitas, mas o filme consegue passar perfeitamente a sensação do que está acontecendo, nos deixando aflitos. Aliás, Woman Of The Hour, no original, tem sequências bem tensas, principalmente a do estacionamento com a personagem de Kendrick. A edição pode atrapalhar um pouco, já que o filme intercala o arco de Sheryl no programa de TV com flashbacks ao longo da década de 70 mostrando o assassino Rodney Alcala escolhendo e matando suas vítimas.

O arco dos coadjuvantes acaba sendo um pouco mais interessante do que o da protagonista, principalmente o de Autumn Best, que interpreta Amy, a “última vítima” de Alcala – pelo menos no filme -. Não que o arco de Sheryl Bradshaw (Anna Kendirck) não seja interessante, mas é que o da Amy mostra mais o serial killer em ação, o que deixa A Garota da Vez mais dinâmico. Daniel Zovatto, de Corrente do Mal e O Exorcista do Papa, interpreta Rodney Alcala, um homem charmoso que faz fotografias de suas vítimas antes de matá-las. O serial killer interpretado por Zovatto acaba não sendo tão ameaçador assim, mas o ator consegue transmitir com convicção a personalidade misteriosa, cruel, e sedutora do personagem (e cara de pau né, por aparecer em rede nacional após anos matando mulheres). Já Anna Kendrick está ótima e divertida no papel de Sheryl, que acaba tendo um encontro inesperado com Rodney, mostrando uma boa evolução da personagem ao longo da trama, mas talvez tenha faltado um aprofundamento melhor nela. A atriz, e diretora, ainda mostra as atitudes machistas dos homens, principalmente na sequência do programa de TV, quando Sheryl entrevista os seus pretendentes: as convidadas precisam parecer mais “burras” e os homens mais inteligentes, mas em uma sacada incrível do roteiro, a personagem faz perguntas autorais afiadas para os homens.

No mais, A Garota da Vez é um thriller de “true crime” envolvente e muito bem dirigido pela estreante (na direção) Anna Kendrick, que consegue misturar o humor com a atmosfera de tensão perfeitamente, e ainda faz uma importante crítica ao machismo e a objetificação das mulheres, além do fato de mostrar a incompetência da polícia por não acreditar nas denúncias contra Rodney, e a da justiça por ter soltado o criminoso uma vez; e ele acabou matando uma mulher e uma menina depois. A estrutura não linear da trama pode confundir um pouco o espectador – principalmente em relação as datas, se não prestar atenção -, e essa alternância entre os crimes de Rodmey Alcala com a trama central de Sheryl Bradshaw no programa de TV, atrapalha um pouco a dinâmica, mas é um ótimo exemplar do gênero, e conta com incríveis atuações de todo o elenco. Uma agradável surpresa, e um dos filmes mais interessantes do ano.