CRÍTICA | A CASA MÓRBIDA

Atualizado: 15 de out.

Tem um ditado bastante conhecido que diz: “cozinhar é uma arte”. Isso quer dizer que cozinhar não é simplesmente fazer comida, você tem que criar, experimentar novas texturas, novos sabores. Lançado em 2022, O Menu trouxe uma abordagem diferente e muito controversa onde um grupo de doze pessoas vão até uma ilha para uma experiência gastronômica exclusiva com pratos inusitados. Agora temos o terror A Casa Mórbida, filme com uma abordagem promissora que mistura bruxarias e outros elementos sobrenaturais com um horror psicológico. A ideia é interessante, mas perde todo o seu potencial ao seguir um caminho mais contido. Lançado na plataforma de streaming da Prime Video, a trama mostra a chef de cozinha interpretada por Andrea DeBose pedindo demissão de seu emprego para abrir o seu próprio restaurante com o investidor Andres (Arian Moyaed). O restaurante, que fica em uma casa abandonada no meio de uma floresta, e que esconde vários segredos envolvendo bruxarias, e aos poucos a personagem começa a ter alucinações e tudo começa a dar errado. Barbie Ferrera, Amara Karan, e Gabriel Drake também estão no elenco.

A Casa Mórbida é uma thriller psicológico com elementos sobrenaturais, tem uma premissa bem interessante, mas o roteiro é bastante limitado, tem ideias ousadas, mas parece ter medo de seguir para um lado mais inusitado. Dirigido pela dupla Bridget Savage Cole e Danielle Krudy, "House Of Spoils", no original, as vezes flerta com o sobrenatural – tem sustos fáceis, clichês do gênero, e elementos de bruxaria e folclore -, e as vezes parece ser um suspense psicológico – as alucinações da protagonista com insetos e comida mofada podem ser representações de toda a pressão que ela está passando em ser chef do seu próprio restaurante -. Além disso, a produção faz uma crítica ao machismo, sexismo, e a opressão, bem como o difícil trabalho de comandar uma cozinha. À medida que a protagonista vai explorando o local, ela acaba descobrindo segredos bizarros, e é aí que tudo começa a dar errado. Nesse quesito, a direção de arte é espetacular, seja nos ambientes ao ar livre (tem florestas e até uma hortinha), ou nos cenários de dentro do restaurante, além dos porões escuros e iluminados apenas por vela, criando situações para sustos fáceis e alguns momentos de tensão – que não funcionam muito -. E se você tem estomago mais fraco, não coma nada durante a sessão porque tem umas cenas bem nojentinhas envolvendo insetos e mofos.

Andrea DeBose, que despontou em 2021 na refilmagem “Amor, Sublime Amor” – e que acabou rendendo um Oscar de atriz coadjuvante -, está ótima no papel da protagonista que não tem um nome definido, ela é chamada apenas de “Chef”. A atriz se entrega totalmente, convencendo o público com as nuances de sua personagem, que aos poucos vai se transformando em uma pessoa agressiva à medida que vai chegando o dia da abertura de seu restaurante. Aqui, o roteiro entrega um estudo de personagem, mostrando a protagonista fazendo o possível para se tornar uma renomada chef de cozinha, testando a sua autoconfiança e a autoestima em um ambiente, aparentemente, machista – ela mesmo acaba tendo atitudes controversas -, e que a fazem sair fora de controle. Barbie Ferrera (da série Euphoria) também se destaca como a subchefe, e vale mencionar a atriz Imola Gaspar, que interpreta a bruxa da lenda do local, fazendo umas aparições bem sinistras.

O desfecho é interessante e inusitado, sendo a parte do folclore, as hortinhas e os rituais o grande diferencial, mas não espere algo grandioso e impactante como a gente imaginava, e parece que não tem uma conclusão definitiva, como se tivesse sido cortado na edição final. No mais, A Casa Mórbida é um suspense mediano, tem uma história intrigante, mas é mal executada, sem se decidir realmente qual caminho seguir – uma casa mal-assombrada, um thriller psicológico, ou uma crítica a indústria gastronômica (pode ser as três coisas também) -. Tem um bom suspense, um mistério revelador, e essa pegada mais para o lado do folclore foi um ótimo acerto, mas os sustos fáceis e os clichês tiram todo o potencial da produção. A Casa Mórbida é um filme bem diferente dos lançamentos atuais, e é uma boa pedida se você quer sair do comum, se procura algo mais gourmet.